Sobre a eleição de Robert Francis Prevost: Nada mudou...
- Seminarista Paulo Cavalcante
- há 3 dias
- 6 min de leitura
Por Seminarista Paulo Cavalcante

É de conhecimento de todos que em 21 de abril de 2025 faleceu Jorge Mario Bergoglio, que usurpava a Sé Apostólica com o nome de Francisco, e que em 8 de maio foi eleito seu sucessor, Roberto Francisco Prevost, que agora usurpa a Sé Apostólica com o nome de Leão XIV.
Muitas pessoas nos perguntaram qual é a nossa posição na situação atual. A resposta é simples: nada mudou.
A possibilidade de um longo interregno na Igreja — ou seja, um período prolongado sem um verdadeiro Papa — não é contrária à indefectibilidade da Igreja nem à assistência prometida por Cristo ao Seu Corpo Místico. A constituição divina da Igreja exige que ela possa ter um Papa, não que deva tê-lo em todos os momentos. A história da Igreja já conheceu interregnos de vários anos entre papados legítimos; no contexto atual, diante da adesão quase universal a erros modernistas e heresias públicas promovidas por homens que usurparam externamente a Sé de Pedro, devemos reconhecer, com dor, que vivemos um interregno sem precedentes em sua gravidade e duração.
O Pe. Edmund James O’Reilly foi um teólogo eminente que viveu na altura do Vaticano I. Ao escrever após o Vaticano I e de suas definições sobre a perpetuidade do ofício papal, ele ensina que Deus poderia deixar a Igreja sem um papa por mais de 39 anos, por exemplo: a duração do Grande Cisma de Ocidente (1378-1417). A seguinte citação do Padre O’Reilly se refere ao Grande Cisma do Ocidente:
“Podemos parar aqui para perguntar o que se pode dizer da posição, naquela altura, dos três reclamantes, e dos seus direitos em relação ao papado. Em primeiro lugar, desde a morte de Gregório XI em 1378, houve sempre um papa – com a excepção, obviamente, dos intervalos entre as mortes e as eleições para preencher as resultantes vacâncias. Houve, digo, em cada dado momento um papa, realmente investido da dignidade de Vigário de Cristo e Cabeça da Igreja, quaisquer que sejam as opiniões que entre muitos possam existir quanto à sua autenticidade; não que um interregno que durasse todo o período fosse algo impossível ou inconsistente com as promessas de Cristo, pois isso não é de modo algum manifesto, mas que, na verdade, não houve tal interregno.” [1]
A Igreja de Cristo, por instituição divina, sempre conservará a possibilidade de ter um verdadeiro sucessor de Pedro. Assim, mesmo em tempos de crise extrema, deve ser possível, por meios extraordinários e providenciais, eleger um verdadeiro Papa, como já ocorreu historicamente no Concílio de Constança, durante o Grande Cisma do Ocidente. De facto, na página 287 do seu livro, o Pe. O’Reilly escreve esta advertência profética:
“O grande cisma do Ocidente sugere-me uma reflexão que tomo a liberdade de expressar aqui. Se este cisma não tivesse acontecido, a hipótese de que tal coisa pudesse suceder pareceria a muitos como algo quimérico (absurdo). Diriam que não poderia ser; que Deus não permitiria que a Igreja chegasse a um ponto tão infeliz. As heresias poderiam surgir, estender-se e durar por longos e dolorosos períodos de tempo, por culpa de seus autores e cúmplices e para a sua perdição, também para grande angústia dos fiéis, aumentada pela realidade das perseguições nos muitos lugares onde os hereges tivessem firmado o seu domínio. Mas que a verdadeira Igreja permanecesse entre trinta a quarenta anos sem uma Cabeça bem esmerada e representativa de Cristo na terra, isso não seria possível. Mas no entanto aconteceu; e não temos garantia alguma de que não volte a acontecer, embora esperemos fervorosamente o contrário. O que posso inferir é que não devemos ser demasiado ávidos em pronunciarmo-nos sobre aquilo que Deus pode ou não permitir. Sabemos com absoluta certeza que Ele cumprirá as Suas promessas… Também podemos contar com que Ele faça muito mais do que aquilo a que se tenha obrigado com as Suas promessas. Podemos com ânimo volver os nossos olhares adiante, face à probabilidade da isenção no futuro de alguns dos problemas e desgraças que tenham acontecido no passado. Mas nós, ou os nossos sucessores nas futuras gerações de cristãos, veremos talvez males mais estranhos do que os que até agora foram experienciados, até mesmo antes da aproximação imediata daquela grande consumação de todas as coisas na terra que precederá o dia do juízo. Eu não me estou a fazer de profeta, nem pretendo ver prodígios infelizes, dos quais não possuo conhecimento algum. Tudo o que pretendo dar a entender é que as contingências em relação à Igreja, que não estão excluídas pelas promessas divinas, não podem ser consideradas como impossibilidades práticas simplesmente porque seriam terríveis e desesperantes num grau muito elevado.” [2]
Tendo isso em vista, atestamos que desde a imposição do Concílio Vaticano II e da nova religião que dele emergiu — com sua nova doutrina, nova liturgia, nova disciplina e novo magistério —, a Sé de Pedro encontra-se vacante. Os usurpadores que ocuparam o lugar de honra no Vaticano desde João XXIII não possuem autoridade legítima alguma, pois professaram e difundiram doutrinas públicas contrárias à Fé católica, e promoveram reformas que destruíram os fundamentos da verdadeira religião, e assim continuam a atuar até o presente momento.
O atual usurpador da Sé de Roma, Robert Francis Prevost, que adotou o nome de Leão, é apenas mais um entre esses usurpadores modernistas. Ele não é Papa, pois não pertence à Igreja visível de Cristo [3]. Quem professa doutrinas heréticas em detrimento da Fé católica, qualidade requerida para ser membro da Igreja [4], e promulga leis universais nocivas à Fé e aos costumes, demonstra, por esse próprio fato, não ter a verdadeira intenção de promover o bem da Igreja, condição indispensável para receber qualquer jurisdição da parte de Cristo [5].
Diante disso, a privação da Autoridade na Igreja continua até hoje. Por essa razão, os bispos, padres, seminaristas, religiosos e religiosas da Sociedade São José, fiéis à doutrina perene da Igreja, não reconhecem nenhum “papa conciliar” como verdadeiro Vigário de Cristo, e o clero, consequentemente, não menciona seu nome no Cânon da Missa, preservando assim a integridade da Fé e do culto.
Convidamos todos os fiéis católicos a rejeitarem as falsas aparências de autoridade e os enganos do humanismo religioso moderno, e a fundarem sua vida espiritual sobre a Fé revelada, o verdadeiro Magistério da Igreja e a teologia católica tradicional — sem concessões ao erro.
Que o usurpador, se quiser verdadeiramente buscar a salvação, volte-se com humildade ao Magistério autêntico da Igreja, especialmente às encíclicas de Leão XIII e aos ensinamentos de São Pio X, que condenaram com clareza os erros modernistas que hoje dominam e corrompem toda a estrutura conciliar. Que ele renuncie à falsa religião do Concílio Vaticano II e abrace a única verdadeira Fé católica — uma das esperanças para a restauração da Igreja e a salvação das almas.
Que São José, nosso padroeiro e padroeiro da Igreja Universal — tão devotamente venerado pelo Papa Leão XIII (Cf. Quamquam Pluries) — aconselhe e ilumine os ânimos, para que a terrível tempestade que há muito tempo assola a Igreja Católica e leva à perda de tantas almas, possa finalmente chegar ao fim: Domine, salva nos, perimus!
Notas:
[1] Pe. James Edmund O’Reilly, The Relations of the Church to Society – Theological Essays, 1882.
[2] Pe. O’Reilly, The Relations of the Church to Society – Theological Essays, pág. 287.
[3] São Roberto Belarmino, Doutor da Igreja: “Esse princípio é certíssimo. O não-cristão não pode, de maneira alguma, ser Papa, coisa que o próprio Caetano admite (lib. c. 26). A razão disso é que um indivíduo não tem como ser cabeça daquilo de que ele não é membro; ora, quem não é cristão não é membro da Igreja, e um herege manifesto não é cristão, tal como foi ensinado claramente por São Cipriano (lib. 4, epist. 2), Santo Atanásio (Scr. 2 cont. Arian.), Santo Agostinho (lib. de great. Christ. cap. 20), São Jerônimo (contra Lucifer) e outros; consequentemente, o herege manifesto não pode ser Papa.” (De Romano Pontifice, lib. II, cap. XXX).
[4] Santo Tomás de Aquino: “Os apóstolos e seus sucessores são vigários de Deus no governo da Igreja, que é construída sobre a fé e os sacramentos da fé. Portanto, da mesma forma que ela não pode instituir uma outra Igreja, ela não pode oferecer uma outra fé, nem instituir outros sacramentos “. (Summa Theologica, III, q. 64, art. 2, ad. 3)
[5] F.X. Wernz, P. Vidal (1943): “Por heresia notória e abertamente divulgada, o Romano Pontífice, se ele caísse em heresia, por esse mesmo fato [ipso facto] seria tido como privado do poder de jurisdição mesmo antes de qualquer juízo declaratório por parte da Igreja…. Um papa que cai em heresia cessaria ipso facto de ser membro da Igreja; e então cessaria também de ser cabeça da Igreja” (Ius Canonicum. Rome: Gregoriana 1943. 2:453.)