A INVALIDADE DAS SAGRAÇÕES EPISCOPAIS CONFERIDAS SEGUNDO O RITO DE PAULO VI
- Seminário São José
- 29 de mar.
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A cristologia do Espírito e o pontifical de Paulo VI

A estranha influência de uma teologia muito na moda sobre as consagrações episcopais da “Igreja” sedentária que saíram do Concílio Vaticano II.
Resumo de um livro aparecido em alemão em 2017: “A cristologia do espírito e o pontifical de Paulo VI – A influência extraordinária da teologia da moda sobre as consagrações episcopais da chamada Igreja conciliar”.
Anátema do santo patriarca Cirilo de Alexandria contra Nestório no Concilio de Éfeso : Can. 9 Se alguém diz que só o Senhor Jesus Cristo foi glorificado pelo Espírito, como se tivesse usado a virtude do Espírito como um estranho, e tivesse recebido dele o poder de trabalhar contra espíritos impuros e de realizar milagres no meio dos homens, e não diz que é seu próprio Espírito por quem fez os milagres, que ele seja anátema (Denz. 121, DS250, Migné PG076: 308D e 306CD. Explicatio duodecim capitum Ephesi pronuntiata a Cyrillo Archiepiscopo alexandrino).
No § 17 de sua encíclica Dominum et Vivificantem, João Paulo II professa a heresia da cristologia do Espírito: “Devemos enfatizar aqui claramente que o ‘espírito do Senhor’ que repousa sobre o futuro Messias é antes de tudo um dom de Deus à pessoa do Servo de Deus. Mas esta última não é uma pessoa isolada e independente, porque age segundo a vontade de Deus, em virtude da decisão ou escolha do Senhor”.
“O Espírito Santo não é de modo algum um dom destinado à ‘pessoa do Messias’, porque Ele, por causa da união hipostática, é a Segunda Pessoa da Divindade, da qual procede o Espírito Santo, do Pai e do Filho” escreve o Professor Pe. Johannes Dörmann: “O Itinerário Teológico do Papa João Paulo II rumo ao Dia Mundial de Oração das Religiões em Assis”, parte II, vol.III, “A Trilogia Trinitária”, Angelus Press, p. 128.
O Papa Adriano I, tendo em mente a heresia dos adoptionistas do século VIII na Espanha, proibiu que a expressão “servo de Deus” fosse aplicada a Nosso Senhor, por causa da união hipostática; (Denz.313).
De acordo com a cristologia do Espírito, tal como encontrada na nova forma de consagração episcopal, o Espírito Santo aparece como um dom para o Messias, que não o possuía antes: “E agora, derrama sobre este eleito o poder que vem de ti, o Espírito de governo, que deste a teu amado Filho Jesus Cristo, que por sua vez o deu aos santos Apóstolos, que fundaram a Igreja em toda parte como teu santuário, para glória e louvor eterno de teu nome”.
O nº 47 do Compêndio do Catecismo da Igreja Católica também professa a “Cristologia do Espírito”, reinventando o dogma da procissão do Espírito Santo do Filho. “Também procede do Filho (Filioque) porque esse Espírito é dado como um dom eterno ao Filho”; (nas edições francesa, alemã, holandesa e inglesa). Este novo “filioque revisado” presente no Compêndio reduz o Filho a ser um “canal de transição” do Espírito Santo em perfeita coincidência com a heresia do Prof. Joseph Langen, professor de teologia católica na Universidade de Bonn até 1871. O Cardeal Franzelin publicou uma refutação do Prof. Langen ao mesmo tempo em que o bispo ortodoxo russo Makary Bulgakov; (disponível em “ archive.or”)
§ 264 do Catecismo da Igreja Católica (edição francesa): “O Espírito Santo procede do Pai como sua primeira fonte, e pelo dom do Espírito do Pai ao Filho como um dom divino, o Espírito Santo procede também do Pai e do Filho em comunhão”. Este parágrafo constitui a fonte da qual procede o nº 47 do Compêndio. Jogando com as nuances lingüísticas em francês entre “celui-ci”, “celui-là” e “lui”, o in se correto § 264 foi transformado em algo herético no Compêndio em várias línguas, já que a versão original havia sido produzida em francês: o Pai supostamente dá “o dom do Espírito” a seu Filho.
(Nota de Santo Agostinho: em Johan. Tract.99, n.9): “Mas o Espírito Santo não procede do Pai para o Filho, e então procede do Filho para a santificação das criaturas; mas procede ao mesmo tempo de ambos: O que é certo é que o Pai concedeu ao Filho, que o Espírito Santo procede também d’Ele, ainda que esse Espírito proceda d’Ele mesmo”.
A da Cristologia do Espírito no Novo Ritual Inglês do Batismo (Ritual ICEL) Trecho da Benção das Águas
“Nas águas do Jordão, seu Filho foi batizado por João e ungido com o Espírito. Seu Filho queria que a água e o sangue fluissem de Seu lado quando Ele estava na cruz. Pelo poder do Espírito, dá à água desta fonte a graça de Teu Filho”.
Aqui está o comentário do Dr. Hans-Otto Katzer. Este padre checoslovaco foi professor de teologia dogmática em Weissbad, o primeiro seminário de língua alemã da Fraternidade São Pio X. O Dr. Katzer, que era um sedevacentista, foi caluniado dentro da FSSPX e acusado de ser um espião comunista incubido de separar a Fraternidade do “Santo Padre”. Ele escreveu: “Poderíamos deixar a avaliação destas palavras (da bênção das águas) para os leitores que só conhecem o catecismo de sua infância, pois a confusão é sensacional. Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro Homem desde o início (de Sua Encarnação)” A União Hipostática não permite as expressões presentes na fórmula! São Gregório Nazianzano insiste que Cristo aceitou o Batismo de São João para santificar o Batismo, não para ser santificado. Assim como Cristo não precisava de remissão de pecados, também não precisava de graça” (Journal “EINSICHT, römisch-katolische Zeitschrift”, vol.6 No.2, p.62 Munique, julho de 1976, ver em “Catholicapedia,net”).
Do § 438 do Catecismo da Igreja Católica: “Sua eterna consagração messiânica foi revelada durante o tempo de sua vida na terra, na época de seu batismo por João, quando “Deus ungiu Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder”, que deve ser revelado a Israel como seu Messias.
Você pode perguntar: “Poderia o Filho de Deus ter feito o Homem precisar de um aumento em seus poderes divinos, trazidos pelo Espírito Santo”? Para mais abundância, Padre J.M. van der Ploeg O.P. apontou em suas críticas que o Catecismo da Igreja Católica deu uma interpretação falsa dos Atos 10:38, bem como de Lucas 4:18–19 e Isaías 61:1; (Theologisches Zeitung, vol. 20 no. 7, julho de 1990).
O leitor se perguntará, com razão, qual é a finalidade da ilustração que incluímos na capa deste livreto. Trata-se de uma índia da tribo Arapaho, de acordo com alguns, ou da tribo Paiute, de acordo com outros. O que ela está fazendo? Como participante do movimento de dança espiritual indiano, que teve seu apogeu no final do século XIX, ela está adorando aquele “espírito” que sempre reverenciou em árvores, rios, ursos, bisontes e seus próprios ancestrais. Deve-se notar que este movimento teria sido impensável sem meios de transporte modernos, como o trem, sem meios de comunicação como o telégrafo, ou sem a língua inglesa, na qual todos os índios dos Estados Unidos poderiam se comunicar uns com os outros no final do século XIX. O profeta daquele “espírito”, Wowoka, pôde assim viajar por toda parte, e sua “religião do espírito” deu aos índios deprimidos seu último, mas falso, consolo. Sua chegada foi anunciada por telégrafo. E não, suas danças não tornaram os índios invulneráveis às balas, nem os búfalos voltaram, nem os brancos desapareceram… Que decepção! A mesma categoria da decepção do novo “Pentecostes” do Vaticano II! O “espírito” impostor de Wowoka não era o Espírito Santo. Seu “espírito” era o mesmo espírito que a humanidade caída venera desde a época de Nimrod, um “espírito” idêntico à natureza, identificado como “poder e força” em um sentido puramente terreno e imanentista. Tal espírito era bem conhecido pelos filósofos gregos que defendiam o estoicismo, que foi reavivado nos tempos modernos como panpsicismo, tão caro a autores como Teilhard de Chardin. Em grego, este espírito foi chamado “hegemonikon pneuma”, traduzido em latim como “spiritus principalis” ou, por exemplo, em inglês, como “espírito guia do cosmos”, e que poderia ser traduzido em espanhol como “espíritu principal”, “espíritu de gobierno” ou “espíritu que hace los jefes”. Percebamos que o estoicismo não é, no plano religioso, mais uma tentativa de justificar o animismo, porque ele não distingue melhor Deus do Universo do que a mulher indigena de que estávamos falando antes. Estamos verdadeiramente diante do mesmo “espírito” de imanência, (que não é o Espírito Santo transcendente), e esse espírito de imanência é central para a nova religião que saiu do Vaticano II, e é perfeitamente compreensível que essa nova religião implore sua infusão no “Bispo eleito” como parte essencial de seu novo rito de “consagração episcopal” introduzido por Paulo VI. Baseado na filosofia aristotélica, podemos dizer que a “Igreja Conciliar” apresenta este “espírito cósmico” como a causa formal da eterna geração do Filho de Deus (Nº 47 do Compêndio do Catecismo da Igreja Católica), bem como de sua Encarnação, e do poder episcopal de seus “bispos” (Ver a nova forma de consagração episcopal). A tragédia é que o verdadeiro Espírito Santo não é a causa formal (causa formalis) destas três causas. Estas “consagrações episcopais” são portanto intrinsecamente inválidas, e nos lembram a passagem de Mc 13,22, porque os Pseudo-Cristo previstos por Nosso Senhor Jesus Cristo não são apenas falsos salvadores, mas também vêm ungidos com um anticristo, esse falso “espírito”, que é, neste caso, a causa formal de sua falsa profecia e a alma de suas falsas liturgias.
Eis a abominação da desolação no lugar santo, onde não deveria estar, quem lê, entenda!
A invalidade das consagrações episcopais conferidas segundo o rito de Paulo VI.
Introdução
Em 18 de Junho desse ano de 2018, celebrou-se o 50º aniversário da “promulgação” da Constituição Apostólica “Pontificalis Romani Recognitio” de Paulo VI. Esta constituição aboliu o rito tradicional de consagração dos bispos e substituiu-o por um produto artificial, um rito sem qualquer precedente na história da Igreja Romana. Todos os tipos de falsos pretextos foram utilizados para esse fim. O mais conhecido desses foi afirmar que o novo Pontifical era um maravilhoso exemplo da liturgia tradicional oriental e, portanto, um enorme passo para caminho ecumênico.O Professor Heinzgerd Brakmann da Universidade de Bonn, por exemplo,
regozijou-se num dos seus ensaios sobre o aparecimento deste novo rito de consagração episcopal, ao mesmo tempo que também salientava que as origens deste rito se encontravam na literatura pseudo-apostólica e pseudo-epigráfica.
As comparações do novo rito com os ritos que supostamente o inspiraram foram todas feitas de um ponto de vista meramente poético ou literário; mas as diferenças de cunho dogmático acerca da relação entre Cristo e o Espírito Santo não mereceram o menor exame. Contudo, quando este rito é examinado mais de perto, torna-se imediatamente claro que envolve uma destruição da doutrina da Encarnação do Verbo Eterno, bem como uma mutilação do Espírito Santo. Este rito é assim dirigido a um deus autoproclamado, que já não é o Deus da Revelação, aquela Revelação que foi confiado à Igreja Católica. Consequentemente, este rito só pode ser inválido e, portanto, causa a extinção da sucessão apostólica dos bispos.
Como resultado, a Igreja Conciliar já não possui um sacramento válido de ordenação, de modo que após cinquenta anos, os seus ministros são quase todos leigos que carecem do indelével carácter sacerdotal, particularmente aquele palhaço e bobo da corte da União Europeia que se chama “Francisco Bergoglio”. As sucessões ainda válidas das antigas Igrejas Católicas Orientais estão a ser extintas por sua vez, pois são obrigadas a misturar-se com as sucessões já inválidas das hierarquias ocidentais de Novus Ordo (João Paulo II “consagrou” o Bispo Metropolitano de Kiev após o fim da guerra fria).
Um dos elementos centrais da nova forma de consagração episcopal é a expressão “spiritus principalis”. A “Igreja” que emergiu do Concílio Vaticano II não considerou necessário definir esta expressão de modo vinculativo (mesmo na sua tradução para o vernáculo). Por que esta expressão é tão importante para ela? Que significado ela tem para a seita conciliar? E mesmo que eu mesmo, e outros, já tenhamos escrito livros inteiros sobre a questão da invalidez do novo pontifical de que aqui estamos a tratar, ninguém até agora se preocupou com a doutrina pregada por esta nova “Igreja” sobre o Espírito Santo, considerada à luz desse “Spiritus Principalis”. O que ou quem é esse “espírito”? Curiosamente, nenhuma tradução oficial e obrigatória dessa expressão no vernáculo, que é susceptível de trazer alguma clareza ao seu significado, está disponível, de modo que em francês, por exemplo, está a ser traduzida como “o Espírito que faz os líderes”.
Já vimos como, por seis razões diferentes, esse rito é necessariamente inválido. Nenhum deles foi refutado, para nossa grande satisfação. Neste pequeno livrinho, concentrar-nos-emos principalmente no que está invalidez está ligada ao “spiritus principalis”. Na verdade, estamos perante uma sétima causa de invalidez: a “seita conciliar” não faz distinção entre a causa formal do sumo sacerdócio do mesmo Cristo, e a causa formal do sacerdócio na ordenação dos Apóstolos. Mesmo os católicos tradicionais ficariam surpreendidos ao saber que a diferença é infinita. É a diferença entre, por um lado, a existência infinita e não criada de Deus que se fez homem, que é a do Verbo encarnado; e, por outro lado, o poder finito, criado pelo carácter sacerdotal, que confere apenas uma participação limitada no sacerdócio do Redentor.
A nova forma nega esta última realidade, e substitui-a por algo mais. Vê a causa formal da ordenação sacerdotal do Redentor, e a dos Apóstolos e seus sucessores, como uma e mesma coisa: o “Spiritus Principalis”. É este último que deve ser verdadeiramente um sacerdote, e não Jesus de Nazaré, uma vez que a dependência de Cristo do “Spiritus Principalis” não seria diferente da dos Apóstolos. O sacerdote ordenado não poderia agir, em virtude do carácter sacerdotal recebido na ordenação, “In Persona Christi”; pelo contrário, segundo a forma do Novus Ordo, Cristo e os Apóstolos agiriam de forma idêntica através do “Spiritus Principalis”.
Uma ligação direta entre o sacerdócio católico e Cristo não poderia existir, porque Cristo e os sacerdotes ordenados teriam a sua própria relação paralela com o “Spiritus Principalis”. Só essa conclusão constitui uma terrível blasfêmia! O novo rito de consagração episcopal age como se o verdadeiro Deus-Homem, Jesus Cristo, tivesse necessidade de um poder estrangeiro para operar a sua obra redentora. Estamos perante uma violação do santuário do mais alto grau, a abominação da desolação no lugar santo, da qual o Salvador já nos avisou. As doutrinas dos grandes concílios ecuménicos são invertidas como se tivessem perdido todo o valor.
De especial importância a este respeito é o grande Concílio de Éfeso, bem como o segundo Concílio de Constantinopla, onde a primeira controvérsia sobre a procedência do Espírito Santo do Pai e do Filho (Filioque) já teve lugar e foi decidida, uma resolução da qual poucos historiadores querem ter conhecimento. O novo rito de consagração episcopal é um rito de iniciação luciferiano que nega a Divindade de Cristo no preciso momento em que ele pretende conferir o mais alto grau do sacerdócio da Nova Aliança!
Dedicamos este artigo a este tema, e os leitores interessados em mais desenvolvimentos são convidados a estudar os livros e páginas web referenciados no final desta brochura, que oferecem fontes notavelmente abundantes para estudo futuro.
A causa formal
Como já dissemos, o novo rito blasfema a existência de uma causa formal idêntica, o “Spiritus Principalis” para o sumo sacerdócio do Deus-Homem, Jesus Cristo, por um lado, e para o sacerdócio apostólico, uma ordenação conferida a seres simples humanos, por outro. Perguntemos primeiro: O que é uma causa formal? Na filosofia escolástica, a causa formal (causa formalis) é a causa ou princípio que determina a forma, ou seja, a morfologia, a estrutura, a essência de um ser; além da causa material (causa materialis), a causa eficiente (causa efficiens), e a causa final ou finalidade (causa finalis), é um dos quatro tipos de causas que já encontramos delineadas na metafísica de Aristóteles. O princípio da causa formal, tal como a causa material, é uma causa interna de cada ser (criado). Consiste simplesmente na forma ou aparência (em grego: “ideia” ou “eidos”), a estrutura ou motivo presente nos seres. Uma estátua de bronze, por exemplo, é o resultado de ter-se fundido um material, bronze, (causa material), dando-lhe a forma de uma estátua.
A filosofia escolástica assimila frequentemente o princípio das causas formais com a causa exemplar (causa exemplaris), que em si mesma é largamente idêntica à ideia platónica (grego: ideia). Neste sentido, por exemplo, o cavalo vivo representa a (causa formal) do cavalo de brinquedo na sua aparência exterior. No entanto, o significado metafísico mais profundo do término da “causa formal”, aponta para a determinação interior de uma coisa, ou seja, para a sua essência.
Dito isto, podemos proceder ao exame da nova forma da consagração episcopal. Chama-se forma de modo análogo porque dá à matéria, ou seja, à imposição de mãos, por si só, ainda ambígua, o seu significado mais específico.
A nova forma em latim e no vernáculo
Et nunc effunde super hunc Electum eam virtutem, quae a te est, Spiritum principalem, quem dedisti dilecto Filio Tuo Jesu Christo, quem Ipse donavit sanctis Apostolis, qui constituerunt Ecclesiam per singula loca, ut sanctuarium tuum,in gloriam et laudem indeficientem nominis tui.
“Enviai agora sobre este eleito a força que de Vós procede, o Espírito soberano, que destes ao Vosso Amado Filho Jesus Cristo, e ele aos Santos Apóstolos, que fundaram a Igreja por toda parte, como vosso templo, para a glória e perene louvor do vosso Nome.”
A forma tem a única missão de descrever em que consiste o ministério sacramental de ordenação do bispo. Compreendemos, antes de mais nada, que nenhuma noção tradicional subsiste que seja capaz de expressar o que é a ordem episcopal sob a forma do novo rito. Este facto por si só conduz inevitavelmente à invalidade do rito.
Para a forma sacramental deve necessariamente conter ou a designação, ou seja, o nome reconhecido atribuído ao grau específico da Ordem a ser conferido (bispo, sacerdote, diácono), ou então designar de alguma outra forma o poder sacramental conferido. (Por exemplo: “Sacerdócio Superior”) e a graça sacramental infundida (por exemplo: “a graça de ser um bom pastor”). Isto foi sublinhado pelos bispos ingleses na sua resposta aos anglicanos, na qual defenderam a Bula do Papa Leão XIII na qual declarou nulas e sem efeito as ordenações anglicanas. Uma Vindicação da Bula ‘Apostolicae Curae’, 1897. Por outro lado, no seu livro sobre a invalidade da nova consagração episcopal, Johannes Rothkranz, assim como o Padre Anthony Cekada, também assinalaram que a nova forma não fala em absoluto da identidade tradicional da ordem episcopal. (Ver referências no final deste folheto).
Que significado dá a seita do Concílio a esta nova forma sacramental?
Prestemos atenção ao significado que a seita nascida do Concílio Vaticano II é inevitavelmente obrigada a dar às palavras que apresenta como a forma do sacramento. Combina uma apresentação do episcopado, no seu modo muito particular, com uma explicação do sacerdócio de Cristo, muito ao seu gosto e sabor. A própria construção da nova forma sacramental sugere que a causa formal, ou seja, o princípio formador do sacerdócio do Redentor, por um lado, e do sacerdócio dos Apóstolos, por outro, é uma e a mesma coisa: o “spiritus principalis”! Pior ainda, no trocadilho das traduções em línguas vernáculas, estas palavras assumem significados muito diferentes (significando uma pessoa, ou apenas um poder impessoal). Neste ponto, descobrir o seu verdadeiro significado é de pouca utilidade, mas mesmo assim, procederemos a isso mais tarde, por enquanto, retenhamos simplesmente que, segundo o Concílio e os seus reformadores, o que causa o sacerdócio em Cristo e nos Apóstolos é uma mesma coisa.
A nova forma afirma a identidade da causa formal do sacerdócio de Cristo, bem como o sacerdócio dos Apóstolos
Segue-se que: Se esta nova forma estivesse correta, a qualidade metafísica e a estrutura do sacerdócio de Jesus Cristo seria idêntica à dos Apóstolos e dos seus sucessores. Esta conclusão é necessária porque a nova forma afirma precisamente que a “força ou poder (latim: virtus; grego: dynamis) viria de Deus e seria uma mesma coisa que o “spiritus principalis”, que teria sido dado primeiro ao Filho, que poderia então transmiti-lo aos Apóstolos para que eles pudessem trabalhar no lugar de Cristo para construir a Igreja no mundo inteiro. Levanta-se a questão: o sacerdócio de Cristo tem realmente a mesma qualidade e a mesma estrutura metafísica que o sacerdócio dos Apóstolos? Com muita preocupação perguntamo-nos: O sacerdote católico não é um “Alter Christus”, como dizemos em latim, “outro”, ou “segundo salvador”? De facto é, mas não no sentido de uma identidade plena do seu sacerdócio com o de Cristo, mas apenas no sentido de uma participação limitada no sumo sacerdócio de Cristo.
Temos agora de examinar o que é que faz de Cristo o Sumo Sacerdote e Mediador, e o que é que faz dos Apóstolos e dos seus sucessores, os bispos, também o são.
Como Filho de Deus encarnado, Cristo é o Sumo Sacerdote da Nova Aliança, pela própria natureza da Encarnação
Em Jesus Cristo, a Pessoa do Filho assumiu a natureza humana unida à sua natureza divina, na medida em que o eixo referencial de unidade de ambas as naturezas é a hipóstase do Filho Eterno, sem separação ou confusão entre os dois. Mais precisamente, o Filho assumiu a natureza humana, que é capaz de padecer e ser sofrida, para oferecer, como Sumo Sacerdote e Deus Homem na cruz, o único sacrifício propiciatório capaz de satisfazer a Deus por toda a raça humana caída no pecado. Os Apóstolos, por outro lado, não são sacerdotes por natureza, e é apenas pelo carácter sacerdotal indelével conferido por Cristo que eles são sacerdotes. Esse carácter sacerdotal impresso na alma dos Apóstolos implica uma simples participação no Sumo Sacerdócio de Cristo. Cristo, muito diferentemente, é um sacerdote por causa da sua missão, por causa da própria Encarnação. Esta missão da Encarnação do Verbo Eterno tem lugar no quadro de uma analogia temporal, em vez da sua filiação eterna.
Mas alguns poderiam dizer: Não poderia o Espírito Santo ser a causa da Encarnação, e também do carácter sacerdotal nos Apóstolos? Isso seria um mal entendido, porque não estamos aqui a falar da causa eficiente (causa efficiens), mas estamos a tratar da causa formal.
A principal causa da Encarnação é a Santíssima Trindade enquanto tal. É verdade que, de acordo com as Escrituras, o efeito da Encarnação pode ser atribuído a uma das Pessoas Divinas, o Espírito Santo (cf. Lucas 1,35). Mas não é esta a questão. Centra-se antes no princípio formal, na qualidade interior e na natureza de cada um dos dois sacerdócios, e não no modo como foram realizados externamente.
São Boaventura, o Doutor Seráfico: A Encarnação do Filho não foi realizada através da mediação do Espírito Santo
Levanta-se então a questão: A Encarnação do Filho teve lugar através da mediação do Espírito Santo, designado pela seita Conciliar sob o nome de “spiritus principalis”?
Será o Espírito Santo em Cristo, o mediador entre a natureza divina e humana, uma espécie de “cola metafísica”, se assim podemos dizer, entre Cristo homem e Deus Filho, assegurando assim a qualidade e a estrutura interior da Encarnação? São Boaventura, o Doutor Seráfico, que também era um bom amigo de São Tomás de Aquino, rejeita-o expressamente (Opera Omnia III distinctio 2, art.3, q.3). Na verdade, isto significaria que o Espírito Santo se teria feito homem, e não o Filho. Também rejeita a ideia de que o Filho poderia possuir a natureza humana através de uma graça infundida, que poderia ser designada, apropriada ou atribuída ao Espírito Santo. A razão para isto é que tal condição (habitus) é algo criado, e como tal, não poderia ter um efeito infinito. E a Encarnação do Filho é um efeito infinito (Opera Omnia III distinctio 2, art. 3, q.2). É apenas num sentido congruente que nos permite considerar uma mediação do Espírito Santo. O que significa congruente? Congruente aqui significa uma circunstância concomitante necessária, mas que não tem qualquer ligação de causa e efeito com a Encarnação. Neste sentido, pode-se dizer que Cristo é (também) ungido com o Espírito Santo, embora a unção substancial da humanidade de Cristo venha da sua unidade pessoal com o Filho Eterno, que a assumiu. Assim, esta unção da humanidade de Cristo com o Espírito Santo é apenas uma consequência da concomitância, e não uma causa do seu sacerdócio; é, portanto, uma linguagem inadequada, mas que é lícita dentro de certos limites
O Espírito Santo também não é uma causa formal do carácter sacerdotal
Pelo contrário, o carácter sacerdotal indelével (o selo de consagração sacerdotal) dos Apóstolos e dos seus sucessores, os bispos, não pode ser formalmente atribuído ao Espírito Santo, porque o carácter sacerdotal é o próprio Cristo. Isto é o que São Tomás ensina na sua Summa Theologica (III q.63 a.2, 3 e 5). Afirmar que o carácter é “ipse Christus”, ou seja, “o próprio Cristo”, claro, não significa uma identidade de facto, mas – deixemos repetir – a causa constituinte formal da qual falamos no início. O sacerdócio dos Apóstolos tem o seu modelo sobre o do Redentor, o que é directamente evidente. Uma vez que o sacerdócio dos Apóstolos conferido pelo selo sacerdotal é um acidente (o
u seja, uma qualidade não essencial) ligado de um modo inerente à alma, e uma vez que Jesus Cristo é um sacerdote por natureza ou essência – porque ele é o Filho de Deus encarnado -, existe a mesma diferença entre o sacerdócio de Cristo e o dos Apóstolos que existe entre substância e acidente.
Consequência da nova forma de consagração episcopal: A negação da natureza divina e da personalidade divina do Filho.
E que mais poderíamos deduzir se assumirmos, tal como a nova forma de consagração episcopal, que uma a mesma circunstância é a causa formal do sacerdócio de Cristo, bem como do sacerdócio apostólico? Deduzimos que o sacerdócio de Jesus está ao mesmo nível que o dos Apóstolos, o que significa que Cristo só seria deificado pela operação daquele suspeito “spiritus principalis”!
Mas um certo “Jesus” não é o Cristo da Revelação, e como verdadeiros católicos, este personagem, nós não o conhecemos. Assim, a nova forma implica um evangelho diferente (“E quem o fizer será anátema” Gal. 1.8) e reduz o sacerdócio da Nova Aliança ao nível do Antigo Testamento. Eles não seriam superiores aos anciãos estabelecidos por Moisés quando Deus ordenou ao profeta que escolhesse 70 homens para o ajudar no governo do povo. Deus quis dar a esses Anciãos o mesmo “espírito” que Ele já tinha derramado sobre Moisés (Números 11,16ss). Mas então, trata-se simplesmente de transmitir um carisma.
A nova forma tem a sua origem numa nova cristologia do Espírito
Quem são estas pessoas que pregam este novo “evangelho”, e qual é o nome desta tendência pseudo-teológica? Foi chamada a Cristologia do Espírito, em oposição à teologia revelada do Logos: “E o Verbo foi feito carne” (João 1,14). A cristologia do Espírito tem sido e continua a ser mais ou menos ensinada pela maioria dos representantes da agitação pós-conciliar. Podemos citar, por exemplo, Hans-Urs von Balthasar, ou o jesuíta Piet Schoonenberg, sem esquecer, evidentemente, o editor principal da nova consagração episcopal em pessoa: Joseph Lécuyer.
Este último, como religioso missionário da Ordem dos Padres do Espírito Santo, teve como seu superior o Bispo Marcel Lefebvre. As investigações de Lécuyer chamaram a atenção dos seus superiores na década de 1950, ao ponto de o Bispo Lefebvre ter preparado um relatório acusando-o de heresia, que transmitiu ao Santo Ofício. Mas Pio XII morreu, e tudo mudou. Depois da demissão de Marcel Lefebvre, Lécuyer tomou o seu lugar como Superior Geral dos Padres do Espírito Santo! Este novo e excepcional cargo serviu de trampolim para a sua admissão na Comissão de reforma litúrgica liderada por Annibale Bugnini durante o pontificado de Paulo VI. Lécuyer foi particularmente responsável pela elaboração da nova consagração episcopal.
Há muitos outros adeptos desta nova cristologia do Espírito. Um deles é Leonardo Boff, que não se ocupou exclusivamente da Teologia da Libertação, uma versão comunista de um falso cristianismo. Como a Cristologia do Espírito tem uma orientação pan-religiosa, encontrou importantes partidários mesmo entre os protestantes, tais como o Prof. Jürgen Moltmann – bem conhecido de Joseph Ratzinger – ou o Prof.
Hans-Joachim Kraus (+), que considerava a Cristologia do Espírito como necessária para o diálogo com o judaísmo: Jesus Cristo deve poder ser explicado exclusivamente no quadro do Antigo Testamento! Todo o movimento de Taizé pertence a essa tendência, particularmente Max Thurian. A liturgia de Lima por ele composta está imbuída da cristologia do Espírito. Em vários lugares, diz-se que Jesus de Nazaré só foi elevado à dignidade messiânica depois do seu batismo por São João Baptista nas águas do Jordão, no momento em que o Espírito Santo apareceu sob a forma de pomba. Outro representante importante que não devemos esquecer é o movimento carismático. Levaria demasiado tempo a enumerá-los todos, mas na língua inglesa, as referências à “spirit theology” são legião.
A cristologia do Espírito apresenta o Redentor como um ser humano que não se teria tornado Cristo sem o “dom do Espírito”. Isto corresponde bem ao novo rito de consagração episcopal. Ainda mais grave: não só nos encontramos perante uma negação da divindade de Cristo; é que a partir daí segue-se imediatamente uma nova heresia trinitária, uma vez que a nova forma implica também a negação da procissão do Espírito Santo por parte do Filho. A cristologia do Espírito afirma claramente que este “espírito” (estranhamente assimilado ao atributo da essência divina da “força”, como se um atributo divino fosse a mesma coisa que uma Pessoa divina) emana do Pai para o Filho, o que implica que tenha sido dado primeiro ao Filho – como se este último precisasse deste dom – para que por sua vez o pudesse transmitir aos seus Apóstolos.
Tudo isto não é considerado apenas num sentido temporal, ou seja, no contexto da missão externa do Filho no mundo, mas também num sentido trinitário, referindo-se ao nível das relações interiores das Pessoas divinas no seio da Santíssima Trindade, como mostram claramente os catecismos oficiais da seita conciliar.
A Cristologia do espírito está também presente no novo Catecismo universal da seita do Concílio
No nº 47 do Compêndio (resumo oficial) do Catecismo da Igreja “Católica”, (o novo catecismo universal dos anos 90, edições em alemão, francês, holandês e inglês), o dogma da procissão do Espírito Santo do Padre e do Filho (filioque) segundo o depósito da Fé, foi adulterado ao ponto de afirmar claramente que o Espírito Santo procederia do Padre no Filho, o que é absolutamente herético! Isto contradiz o Credo do XI Concílio de Toledo (DZ.277), que retoma uma formulação de Santo Agostinho (de Trin. 15.26.47' e ‘in Ioh, Tract.99, n.9') “O Espírito Santo não procede do Padre no Filho”.
Mas isso não é tudo, porque esse n.º 47 se baseia numa inversão da citação de Santo Agostinho que podemos encontrar no § 264 do mesmo catecismo, especialmente nas edições francesa e holandesa, ambas as quais podem ser consultadas no sítio web do Vaticano. Referem-se a esta citação de Santo Agostinho, mas obrigam-no a dizer exatamente o contrário. Esta inversão foi desde então introduzida no Compêndio em várias línguas, incluindo inglês e alemão. Porque é tão importante que o Espírito Santo também proceda do Filho? Para além do facto de ser verdade revelada, se o Espírito Santo não procedesse do Padre e do Filho, o Filho não seria Santo no sentido pleno desse termo, e necessitaria portanto de um dom do Espírito Santo para completar Sua Santidade, e para que esse dom viesse a completar a Sua existência pessoal. Ele já não seria perfeito e, portanto, não seria Deus. Nem poderia ser eterno.
O catecismo anteriormente mencionado visa poder provar a viabilidade da cristologia do Espírito, em vários parágrafos diferentes. Em particular, as suas declarações sobre a unção de Cristo “com” o Espírito Santo (sabemos agora não as tomar em congruência) são introduzidas de uma forma conducente a implicar que o Espírito Santo seria a causa formal da santidade de Cristo. E no entanto, na verdade, a santidade de Cristo consiste na “graça da unidade, gratia unionis”, ou seja, nessa unidade das duas naturezas na Pessoa de Deus o Filho, que foi concedida à sua humanidade assumida no preciso momento da Encarnação. Podemos encontrá-la em todos os manuais de teologia dogmática utilizados até ao Concílio na formação de sacerdotes.
Usamos o novo catecismo para indicar claramente que esta heresia que nega a Divindade do Redentor na nova forma de consagração episcopal não surgiu por acaso, por puro descuido e coincidência infeliz, mas está embutida numa corrente herética mais geral chamada : Cristologia do Espírito ! Este é um elemento perfeitamente coerente e intencional. Em resumo : O novo rito de consagração episcopal e o novo catecismo andam juntos como pez e enxofre. Há também uma edição multilingue dos Evangelhos de Itália, com o imprimatur correspondente nos anos 70, publicada por uma sociedade missionária italiana, presumivelmente católica, para ser distribuída nos hotéis de lugares de peregrinação, como Lourdes. Mais uma vez, nos comentários sobre o baptismo de Cristo por São João no Jordão, é explicitamente declarado que foi apenas no seu batismo que Jesus de Nazaré recebeu a “iluminação” messiânica, transformando-o no Redentor. Esta heresia há muito que é conhecida e condenada, porque os antigos gnósticos já a tinham apoiado nos primeiros tempos da Igreja. No seu livro “Die Kardinalfehler des Hans-Urs von Balthasar”, Johannes Rothkranz descreveu em pormenor, há anos atrás, este abismo de perversão.O facto de Jesus de Nazaré ter tido um “consecrador” ostensivo em São João Baptista foi sempre a doutrina defendida pela chamada “Saint John’s Freemasonary”.
O que ou quem é este “spiritus principalis”?
Nas versões gregas das fontes litúrgicas da reforma litúrgica do Concílio Vaticano II – que, aliás, eram quase todas de origem pseudo-apostólica – esta expressão é reproduzida como “hegemonikon pneuma”. Este “hegemonikon pneuma” vem, no entanto, da filosofia estóica que era bastante panteísta. O hegemonikon pneuma era o espírito cósmico omnipotente inerente ao mundo, o poder de auto-organização da matéria. De acordo com os ensinamentos do Gnosticismo, é através da evolução do universo que um tal espírito é criado para se tornar uma expressão viva. Seria assim uma espécie de alma do mundo. O panpsiquismo moderno e contemporâneo é inspirado por esta ideia, uma vez que pensa poder assim resolver a alegada oposição entre espírito e matéria. O herege Jesuíta Teilhard de Chardin foi grandemente influenciado por tais ideias. O progresso, tanto ideológico como técnico, é assim o farol por excelência do “spiritus principalis”.
Visto que durante a Antiguidade o estoicismo parecia bastante sóbrio, ao contrário do neoplatonismo, muitos pensadores foram influenciados por ele até meados do terceiro século da era cristã, e alguns, infelizmente, inclinavam-se demasiado para ele. No nosso tempo, a seita Conciliar tenta impor o selo de “hegemonikon pneuma” ao Espírito Santo. Este “pneuma” já não é o verdadeiro Espírito Santo que procede de Deus o Padre e Deus o Filho, mas é um poder outrora cego e sem forma, dado pelo Padre ao Filho, para que ele possa estar à altura da sua missão no mundo.
As fontes da Cristologia do Espírito
Originalmente, vemos que esta ideia constitui a base daquela fonte histórica chamada Traditio Apostolica, e foi ela que forneceu o modelo para a nova forma de consagração episcopal: O “spiritus principalis” designava a Palavra de Deus (logos endiathetos) que supostamente ainda não era pronunciada, estava ancorado no espírito de Deus, e não era de todo uma pessoa; esta palavra, ainda não pronunciada, não devia tornar-se uma palavra revelada abertamente (logos prophorikos) antes da missão externa do homem Jesus de Nazaré. Claro que isto é um completo disparate, como se o Verbo Eterno não tivesse sido uma Pessoa antes, e só se tivesse tornado uma Pessoa por ocasião da sua missão temporal!
Desde o início da história da Igreja, sempre houve falsos maestros cujas especulações não só escaparam a todo o controlo (o que por vezes também poderia acontecer no pensamento de alguns santos), mas também – e isto é crucial – incorporaram a sua filosofia desviante nos ritos litúrgicos para que pudessem reflectir as suas ideias aberrantes sobre o universo. Estes autores dotaram-se assim de um monumento espiritual e litúrgico destinado a apresentar os seus ensinamentos como se fossem “tradicionais”, sãos e seguros, provenientes diretamente dos Apóstolos, e cujos “originais” tinham acabado de ser entregues nas próprias mãos do autor. Assim, a maioria destas “fontes” surgiram, e mais de um milénio depois foram descobertas e adoptadas pelo movimento litúrgico. Estas são várias versões da chamada “Traditio Apostolica”, do “Testamento do Senhor”, da “Doutrina dos Doze Apóstolos” e das “Constituições Apostólicas”. As cartas pseudo-Clementinas também tiveram uma grande influência. Nessa época, nos séculos II e III, quando os hereges mostraram que a sua doutrina não era a dos Apóstolos e seus sucessores, simplesmente inventaram os documentos necessários para que as suas heresias parecessem credíveis.
O Sínodo Lateranense na época do Papa S. Martinho I
Um sínodo realizado na Basílica de Latrão sob a presidência do Papa S. Martinho I condenou todas estas tentativas de introduzir tais documentos nas discussões. Isto aconteceu décadas antes de outro sínodo, realizado sem a aprovação papal no “Trullo”, ou seja, a sala da cúpula no palácio imperial de Constantinopla, ter chegado muito próximo de declarar autêntico o oitavo livro das constituições
pseudo-apostólicas. Finalmente, o Trullanum contentou-se em declarar autênticos os “cânones apostólicos”, que eram tão apócrifos como as próprias “constituições”, e que estavam ligados a eles, mas a condenação feita pelo Sínodo Lateranense Romano algumas décadas antes foi voluntariamente de âmbito tão geral a ponto de condenar antecipadamente todos estes documentos. (Sínodo Lateranense 649, Denz 274)
Em particular, o Sínodo Lateranense presidido pelo Papa Martinho I insistiu em denunciar e excluir todos aqueles que, sob o pretexto da piedade, tentaram presunçosamente minar as cinco pedras angulares da Igreja (os cinco Concílios reconhecidos como ecuménicos na época) com a ajuda de documentos alegadamente não reconhecidos, com argumentos nunca antes ouvidos, com livros, atas de debates, com testemunhos falsos, inventou sínodos e, crucialmente para a nossa tentativa, com ritos inválidos de ordenação (ordinationes vacuas), aos quais faltava qualquer reconhecimento canónico, com a intenção de destruir as fundações que os Santos Padres tinham estabelecido.
O Santo Papa Martinho I pagou a sua firmeza com martírio (o seu sucessor do tempo do sínodo “Trullanum” quase sofreu o mesmo destino). Foi preso pelo Imperador Bizantino e condenado à morte. Depois de ter sido severamente flagelado, não foi executado, mas os maus-tratos que sofreu durante o seu cativeiro acabaram por causar a sua morte no exílio no Quersoneso, na Crimeia de hoje. A Igreja venera-o como um mártir e celebra a sua festa a 12 de Novembro. A seita do Concílio aboliu a sua festa e mudou o dia da sua comemoração (não obrigatória) para 13 de Abril, próximo do dia em que é comemorado no calendário bizantino (14 de Abril). O pontifical de Paulo VI traz assim nas suas páginas o sangue de um Papa mártir.
O Concílio de Éfeso já condenou o que agora se chama a Cristologia do Espírito
Mesmo a afirmação de que Jesus Cristo precisava de um poder diferente e estranho para o seu divino poder milagroso, e que por isso o “espírito” foi dado de fora, e assim o Redentor não trabalhou no seu próprio Espírito, há muito tempo que tem sido condenado. O Santo Patriarca Cirilo de Alexandria formulou esta condenação contra Nestório no Concílio de Éfeso (can.9 Denz. 121). Este Concílio, que defendeu sobretudo o título de Nossa Senhora como Mãe De-Deus, defendeu também o Filioque, ou seja, a doutrina da procissão do Espírito Santo também do Filho. E isto significa que, nos nossos dias, a nova forma de consagração episcopal de Paulo VI cai sob o golpe dessa mesma condenação. Não diz a nova forma que o poder do Senhor foi concedido a Jesus em virtude de um princípio estranho a si mesmo?
A mais antiga confirmação do Filioque, já no tempo do Papa S. Dâmaso
Encontramos a mais antiga afirmação do Filioque num decreto do Papa S. Dâmaso por ocasião do Sínodo Romano de 382: “O Espírito Santo não é só o Espírito do Padre, mas do Padre e do Filho”. Se ele é o Espírito de ambos, então o Espírito Santo também deve proceder do Filho, para que ele não seja dado ao Filho como um dom que confere poder divino. Que ninguém o convença do contrário. A seita conciliar tentará fazê-lo acreditar que “dom” é um dos nomes do Espírito Santo. Mas como São Tomás ensina, este nome é dado porque é dado aos fiéis, e não porque é dado ao Filho.
As mentiras dos reformadores litúrgicos
A Cristologia do Espírito apresenta as coisas como se o Senhor precisasse de ser santificado por um princípio externo, destinado a estabelecer o seu sacerdócio. Isto é uma enorme mentira!
Também mentiram quando, por ocasião da introdução da nova consagração episcopal, foi oficialmente declarado que os siríacos ocidenta
is, e os coptas, utilizavam uma grande parte desse rito. O rito sírio ocidental em questão não é um rito de consagração episcopal, mas uma liturgia de entronização do patriarca recém-eleito que já é bispo. Não é de todo um sacramento! Além disso, Lécuyer fez uso de traduções falsas. Nos textos latinos que apresenta como fontes, por exemplo, a certa altura o pronome feminino “quam” foi substituído por um masculino “quem”, de modo que uma referência falsa dentro dessa frase foi operada. Tinha de ser dada a impressão de que Cristo tinha primeiro de receber o “spiritus principalis”, o que o texto original não sugeria de todo.
Outro texto supostamente conclusivo nos documentos dos reformadores revelou-se não como a oração de consagração de um bispo maronita, mas como uma oração para ungir a cabeça. Essa parte do rito não é sacramental. No entanto, no que diz respeito ao rito copta, o termo “hegemonikon pneuma” é utilizado de uma maneira que não põe em causa qualquer dogma. Nunca se diz que o Filho deveria receber o Espírito que de outro modo lhe faltaria. Por outro lado, a frase em que vem este “hegemonikon pneuma” também não faz parte da forma de consagração. No rito copta para a ordenação e bênção de um abade-pai, esta expressão é utilizada no momento da imposição das mãos, e no entanto era sempre claro que a ordenação de um abade-pai nunca teve um carácter sacramental.
O sentido panteísta da expressão “spiritus principalis”
Nas Sagradas Escrituras, encontramos a expressão “spiritus principalis” apenas uma vez, no Salmo 50. De acordo com o comentário sobre os Salmos de São Robert Bellarmine, aqui David pede a Deus o carisma particular da sua dignidade real. E o rei não era um sacerdote! Se a seita Conciliar atribui tanta importância a esta expressão “hegemonikon pneuma”, é porque proclama a sua consequência prática, o panteísmo. Quando João Paulo II esteve no Togo, estava numa floresta sagrada dos Animistas, rodeado de feiticeiros e curandeiros, onde frequentou activamente um culto pagão à natureza, já que misturava farinha de mandioca, e depois despejou-a no chão, um rito óbvio de fertilidade. E não foi um simples gesto de amizade liberal. Não, estava profundamente convencido de que o “hegemonikon pneuma”, o espírito cósmico, estava também em ação nos ritos daqueles homens caçadores de demónios. Também não foi um simples desvio, quando fumava o cachimbo da paz com os índios Lakota. João Paulo II não estava menos convencido da presença de Wakan Tanka do que os próprios índios, que em gratidão lhe deram uma pluma de águia. Para estes pagãos não faz diferença entre Deus e o mundo. Para eles, o mundo é o corpo do Criador. A elaboração dos novos ritos da Igreja Conciliar e a sua utilização prática deve ser entendida como a ligação teúrgico e mágica com o espírito cósmico omnipotente, que também se manifesta nas religiões pagãs, ou melhor, que sempre trabalhou nelas, e continua a fazê-lo. Os pseudocristãos (falsos cristos) preditos pelo Redentor em Mc.
13,22 não são apenas pseudo-redentores e enganadores: são falsos profetas ungidos com a falsa unção de “hegemonikon pneuma”. Esta falsa unção é o tema principal da sua proclamação: “Eis que sou um Cristo como Jesus Cristo, e recebi a mesma unção que ele recebeu” e esta é a base sobre a qual repousa toda a Cristologia do Espírito!
Uma vez tudo isto conhecido, os fiéis católicos devem afastar-se de todos os sacramentos da seita conciliar que são administrados de forma inválida e que não passam de falsificações, e não menos que meras simulações de ritos tradicionais, igualmente inválidas, se o ministro não é um sacerdote validamente ordenado.
Pensemos, por exemplo, na Fraternidade de São Pedro, ou no Instituto do Bom Pastor, bem como no Instituto de Cristo Sumo Sacerdote Rei.
Também não devemos esquecer as dimensões escatológicas de uma tal quebra do sacramento da Ordem Sacra. O diabo não deixa nada ao acaso no seu objectivo de destruir a Santa Missa, ou pelo menos tornar impossível a sua celebração, mesmo que não o consiga fazer até ao fim dos tempos. Estejamos portanto atentos aos sinais anunciadores deste fim dos tempos!
Fontes
Stopka, Thilo: A cristologia espiritual e o pontifical de Paulo VI – A influência extraordinária de uma teologia da moda sobre as consagrações episcopais da chamada Igreja conciliar. Edições Saint-Remi, Cadillac 2017. impressão sob encomenda.
Stopka, Thilo: A questão da validade das ordenações sacerdotais e episcopais segundo o rito de Paulo VI – Edições Saint-Remi, Cadillac 2007. impresso na encomenda.
Rothkranz, Johannes: A tríplice invalidade da nova ordenação episcopal. – Pro Fide Catholica, Editora Anton Schmid (n.d.).
E para todos aqueles que têm um bom domínio da língua francesa:
Website, ‘grore-sanctifica.or’; esta página avalia todas as fontes do Consilium Liturgicum sob Annibale Bugnini, que são mantidas no Instituto Litúrgico Alemão em Trier.
Menke, Karl-Heinz: “O fenômeno heterogêneo da Cristologia do Espírito” (um artigo, publicado em razão do octogésimo aniversário do Cardeal Walter Kasper: “Meu Senhor e meu Deus – Cristo confessa, proclama e proclama”, emitido de George Augustin, Klaus Krämer, Markus Schulze, Freiburg – Basiléia – Viena 2013).
Referências ao assunto extraídas das obras de São Tomás de Aquino :
Em Sent. lib. III, d.2, q.2, a. 2, qq. 1, 2: A natureza humana foi assumida pela graça?
O Filho de Deus assumiu a carne através do Espírito Santo? Estes dois artigos do Comentário sobre as Sentenças correspondem aos de São Boaventura mencionados acima.
III. q.6 a.6 : O Filho de Deus assumiu a natureza humana através da graça?
III. q.7 a.13: A graça habitual de Cristo é uma conseqüência da união?
Comp. theol. cc. 54, 67, 202, 203, 209, 210, 211 : Doutrina das relações imanentes em Deus. Rejeição de várias heresias cristãs do tempo de Paulo de Samosata e Photinus a Nestório.
Do verbo encarnado aa. 2, 4
S. c. G. IV. cc. 4, 9, 24, 28, 34, 38, 41: Rejeição de várias heresias cristãs primitivas desde o tempo de Paulo de Samosata e Photinus até Nestório.
Contra erros graecorum I, c. 9 : Em que sentido deve ser entendido o Espírito Santo como o médium entre o Pai e o Filho? Esclarecimento de um mal-entendido da teologia dos santos Padres gregos da Igreja.
C. E. Gr. 1, 21 : Como deve ser entendida a afirmação “Deus fez o homem Deus”?
C. E. Gr. 1, 27 : Como entender a afirmação de que o sopro de vida que Deus soprou na face do primeiro homem Adão não é a alma racional, mas a efusão do Espírito Santo?
C. E. G. 2, 4: Como pode isto ser compreendido? Que o Filho trabalha através do Espírito Santo?
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