Análise do discurso de "Leão XIV" na Fundação da Centesimus Annus Pro Pontifice
- Seminarista Paulo Cavalcante
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Por Seminarista Paulo Cavalcante

Em 17 de maio de 2025, Robert Francis Prevost (a.k.a. Leão XIV) fez um discurso para os membros da Fundação Centesimus Annus Pro Pontifice, oferecendo suas reflexões sobre o papel da doutrina social da Igreja no mundo contemporâneo. Embora muitos tenham reagido à eleição dele com otimismo e até mesmo entusiasmo, uma análise cuidadosa de seu pensamento a partir de uma perspectiva católica tradicional revela sérias preocupações teológicas e uma continuação da trajetória pós-conciliar que prioriza o diálogo e o humanismo em detrimento da clareza e da fidelidade à revelação divina.
Este artigo analisa as questões centrais encontradas no discurso de "Leão XIV", comparando suas declarações com o ensino católico perene, destacando contradições, omissões e ambiguidades específicas.
Doutrina como hipótese e conhecimento em evolução
"A doutrina aparece como o produto da pesquisa e, portanto, de hipóteses, discussões, progressos e retrocessos..."
Essa descrição é incompatível com o entendimento católico de doutrina como a transmissão fiel da verdade divinamente revelada. A doutrina, particularmente em questões de fé e moral, não é fruto de investigação científica ou evolução dialética. Ela é recebida, não inventada; transmitida, não é uma hipótese.
Ensino tradicional:
O Vaticano I (Dei Filius) ensinou solenemente que o dogma é imutável: "O significado dos dogmas sagrados deve ser sempre mantido, o que já foi declarado pela Santa Madre Igreja, e nunca deve haver um desvio desse significado sob o pretexto ou em nome de uma compreensão mais profunda."
O Papa São Pio X condenou a ideia de evolução da doutrina na Pascendi Dominici Gregis (1907), chamando-a de "síntese de todas as heresias".
Negação da posse da verdade pela Igreja
"Ela [a doutrina social da Igreja] não pretende possuir o monopólio da verdade..."
Essa declaração contradiz a afirmação da Igreja de ser a única guardiã e professora da verdade revelada. A Igreja Católica, fundada por Cristo, ensina com autoridade divina e sempre sustentou que somente ela possui a plenitude dos meios de salvação.
Ensino tradicional:
O Papa Pio IX, Syllabus Errorum, condenou a proposição: "Todo homem é livre para abraçar e professar a religião que, guiado pela luz da razão, considere verdadeira."
O Papa Pio XI, Mortalium Animos, ensinou que somente a Igreja Católica é a verdadeira religião e que a unidade religiosa deve se basear no retorno dos não católicos à única Igreja de Cristo.
Elevação da consciência, mesmo quando errônea
"A doutrinação é imoral... ela prejudica a sagrada liberdade de respeito à consciência, mesmo que errônea."
Embora a Igreja ensine que se deve seguir a consciência, ela também ensina que a consciência deve ser formada na verdade. Uma consciência errônea não possui o direito sagrado de ser seguida sem qualificação.
Ensino tradicional:
O Papa Leão XIII, em Libertas, afirma que a liberdade de consciência não é a liberdade de acreditar e agir erroneamente, mas a liberdade de escolher o bem.
O Catecismo do Concílio de Trento enfatiza a necessidade de uma consciência bem formada, enraizada nos ensinamentos da Igreja.
Substituição do diálogo pela proclamação
"Diálogo e amizade social... precisamos deixar claro que a palavra 'doutrina' tem outro significado, mais positivo..."
Isso reflete a ênfase pós-Vaticano II no diálogo em detrimento da conversão e da proclamação. O resultado é um relativismo brando que prejudica o mandato missionário da Igreja.
Ensino tradicional:
Cristo ordenou a Seus apóstolos: "Ide, pois, e ensinai a todas as nações... ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado" (Mateus 28:19-20).
O Papa Gregório XVI, em Mirari Vos, e o Papa Pio IX, em Quanta Cura, condenaram explicitamente o indiferentismo religioso e a ideia de que a verdade pode surgir do diálogo entre opiniões conflitantes.
Omissões sobre a realeza social de Cristo e a ordem sobrenatural
Em todo o discurso, não há referência à:
Realeza de Cristo sobre sociedades e nações;
Necessidade da Igreja para a salvação;
Realidade do pecado ou o fim sobrenatural do homem.
Em vez disso, o foco permanece horizontal: governança global, estruturas éticas e encontro. Esse tom naturalista reduz a Igreja a uma instituição sociológica em vez do Corpo Místico de Cristo.
Ensino tradicional:
O Papa Pio XI, Quas Primas, ensinou que a paz e a ordem social só são possíveis quando as sociedades reconhecem o reinado de Cristo Rei.
A missão principal da Igreja é a salvação das almas, não apenas a resolução de crises temporais (cf. Cânon 1322, Código de 1917).
Conclusão: A continuação da crise pós-conciliar
O discurso de Robert Francis Prevost (a.k.a. Leão XIV) continua o padrão estabelecido por seus predecessores imediatos ao enfatizar o diálogo, a evolução da doutrina e o engajamento sociopolítico em detrimento da clareza, da conversão e das verdades imutáveis da fé.
Os fiéis devem julgar esses ensinamentos não pelo sentimento, pelo tom, ou pelas vestimentas tradicionais usadas mas por sua conformidade com a tradição ininterrupta do Magistério da Igreja. Nisso, as observações de Robert Francis Prevost ficam gravemente aquém, e os católicos devem recusar tais ensinamento, que só podem advir de uma falsa autoridade, e permanecer fiéis à verdadeira doutrina da Igreja.