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O Vídeo do Padre José Eduardo: Diagnóstico Incompleto da Enfermidade

  • Foto do escritor: Seminarista Paulo Cavalcante
    Seminarista Paulo Cavalcante
  • 16 de jul.
  • 7 min de leitura

Por Seminarista Paulo Cavalcante


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O Padre José Eduardo, em seu vídeo "Do Tradicionalismo à Apostasia", inicia com um diagnóstico corajoso, aparentemente sobre a recente adesão do Centro Dom Bosco (CDB) ao lefebvrismo: ele aponta o "tradineogalicanismo carioca" como um "cisma disfarçado" e "apostasia trajada de ortodoxia". Essa percepção da dissimulação é um mérito, pois a apostasia moderna raramente se apresenta abertamente, i.e., está recheada de sutilezas e contradições, seja para as modernistas com relação à fé verdadeira, seja para os tradicionalistas com relação a sua comunhão com "Roma". Sim, os tradicionalistas "apostataram" da religião do Vaticano II, todavia permanecem em comunhão com eles, os aceitando como representantes de Cristo. O termo "cisma disfarçado" exprime muito bem essa realidade.


Ele acerta ao identificar a raiz do problema no subjetivismo, oriundo do "Cogito, ergo sum" cartesiano, que ele corretamente descreve como uma transição da primazia do ser para a do pensamento, resultando em um "eu solitário que se ergue contra a igreja". A crítica à "vontade de pensar" subjacente ao cogito, que se manifestaria em Schopenhauer e Nietzsche, é perspicaz, revelando a base filosófica do erro. O Padre também denuncia o "orgulho gnóstico que crê por iluminação própria e não por obediência à fé eclesial".


No entanto, onde o Padre José Eduardo falha, e falha gravemente, é ao não levar suas próprias premissas às suas conclusões lógicas. Ele critica os "tradicionalistas radicais" por criarem falsas dicotomias, mas não percebe que a verdadeira dicotomia não é entre "missa antiga vs missa nova", mas entre a verdadeira Igreja de Cristo e a seita modernista que a usurpa.


Sua menção ao "erro lefebvrista" e à crítica de Dom Dolan sobre a "eclesiologia do Antigo Testamento" da FSSPX, onde Lefebvre seria visto como um "profeta", é digna de reconhecimento. O vídeo acusa o lefebvrismo de um "espírito anti-intelectualista e gnóstico" que não permite questionar Monsenhor Lefebvre, tratado como uma "vaca sagrada". Aqui, há uma parcial e involuntária concordância com o sedevacantismo: a FSSPX de fato erra ao centrar sua "tradição" em um homem e não na Sé de Pedro, mas o Padre José Eduardo se equivoca ao não ver que a obediência cega é devida ao Papa legítimo, e não a um ocupante herético. O cerne do problema não é a veneração excessiva a Lefebvre, mas a teologia defeituosa que permite reconhecer e resistir ao mesmo tempo.


O Padre José Eduardo convoca à "conversão de todo o coração" e ao retorno à Igreja, "coluna e sustentáculo da verdade". Porém, esta "Igreja" a qual ele chama ao retorno é a mesma que, sob os ocupantes conciliares, promulgou os erros que ele mesmo, em parte, critica. Sua exortação, embora piedosa em essência, é perigosamente incompleta, pois não aponta o cerne da doença: a apostasia da própria hierarquia que usurpou a Sede de Pedro.


A Lógica Implacável do Sedevacantismo


Vaticano II é Vinculante? A Falsidade da "Pastoralidade":

Os textos demonstram a falácia da ideia de que o Vaticano II não seria vinculante por ser "apenas pastoral". Como Paulo VI afirmou, "“Chega-se a ousar afirmar que o Concílio Vaticano II não é vinculante [...]. Mas quais tradições? É esse grupo [...] que decide quais [...] devem ser consideradas como norma de fé!” (1). Essa crítica atinge diretamente a FSSPX e semelhantes, que selecionam o que aceitar do Concílio. A verdade é que, se o Concílio provém de uma autoridade legítima, ele é vinculante. Se não é, então a autoridade que o promulgou é questionável. Os artigos como "A Nova Doutrina do Vaticano II" e "As Heresias do Concílio Vaticano II" confirmam a natureza herética de suas doutrinas, como a liberdade religiosa, que contradiz frontalmente o Magistério perene (condenada de Leão XIII a Pio XII). Se um Concílio "pastoral" pode ensinar heresias, então a "autoridade" que o promulgou não pode ser a verdadeira Autoridade Católica.


A Missa Nova: Substituição, Não Coexistência:

Paulo VI é inequívoco: "O novo Ordo foi promulgado para substituir o antigo [...]." (2). A tentativa da FSSPX de coexistir com o rito novo, aceitando-o como uma forma "ordinária" ou "válida", é uma contradição. Se o novo rito foi imposto com autoridade para substituir e se é, como afirmamos, nocivo à fé, então a autoridade que o impôs não pode ser a legítima autoridade da Igreja Católica, que é indefectível. "Écône: Ponto Final" e "Uma Posição Insustentável" argumentam que a posição da FSSPX é insustentável ao aceitar a validade de quem impõe os erros.


Obediência e Unidade Eclesial: A Verdadeira Crise:

Paulo VI destaca que a desobediência ao Concílio e ao novo rito "coloca fora da obediência e da comunhão com o Sucessor de Pedro e, portanto, com a Igreja" (3). Esta afirmação, se proveniente de um verdadeiro Papa, é absolutamente correta e vinculante. Os artigos "Indefectibilidade e una cum" e "A Objeção Semi-Tradicionalista de que S. Paulo resistiu a S. Pedro na Sua Face" exploram essa questão. No entanto, a conclusão sedevacantista é a única lógica: se obedecer a esses preceitos heréticos significa romper com a Tradição, então a "autoridade" que exige tal obediência não é a verdadeira autoridade de Pedro. A obediência é devida à Autoridade Católica, não a quem promove a apostasia.


A Autoridade Papal e o Papado Apóstata:

Paulo VI afirma agir com "a mesma autoridade suprema que nos vem de Cristo Jesus" (4). O consenso unanime dos teólogos é invocado para reforçar que mesmo os juízos disciplinares e prudenciais do Magistério autêntico exigem obediência externa e silentium obsequiosum. Citemos apenas um exemplo breve:

 

“Necessário é obedecer aos juízos da Igreja, ainda quando não sejam infalíveis em si mesmos, pois provêm de uma autoridade assistida por Cristo. Mesmo se não se pede assentimento interno em tais casos, exige-se o assentimento externo e o silêncio reverente.”

(cf. De locis theologicis, lib. IV, cap. VIII)


Essa é a espada de dois gumes que aniquila a FSSPX. Se os "papas conciliares" são verdadeiros Papas, então sua desobediência é cisma e heresia. Se sua desobediência é justificada (porque eles propagam erros contra a fé), então eles não podem ser verdadeiros Papas. A FSSPX tenta ter o bolo e comê-lo, resultando em uma "tradição artificial" e uma "consciência individual que se erige em tribunal do Magistério".


A Contradição Manifesta: O Fim da Linha para o "Reconhecer e Resistir":

O ponto mais devastador, e onde o sedevacantismo se ergue como a única posição católica coerente, é a evidência inegável de contradição doutrinal. O silogismo apresentado é irrefutável para a fé católica:


  • Não pode haver contradição doutrinal entre os ensinamentos oficiais da Igreja em tempos distintos, sem que isso destrua a própria fé.


  • Uma Igreja que ensina erro em matéria de fé, moral ou culto universal não é assistida por Cristo.


  • Logo, a Igreja verdadeira não pode ensinar erros doutrinais nem contradizer seus ensinamentos anteriores com autoridade universal.


Este axioma fundamental é violado abertamente. Numa audiência (5), que descobri recentemente, de João Paulo II em 1998, ele ensina que "toda religião começou pela obra do Espírito Santo" e que as religiões não católicas "conduzem à salvação", é o exemplo mais flagrante. Isto não é apenas modernismo; é blasfêmia e apostasia, condenado expressamente por São Pio X! Como pode um verdadeiro Vigário de Cristo proferir tais horrores, beijar o Alcorão, participar de ritos pagãos e louvar adoradores de vodu? A resposta é simples e aterradora: ele não pode ser o Vigário de Cristo.


Condenação da Abordagem do "Reconhecer e Resistir" (FSSPX)

A mentalidade do "reconhecer e resistir", tão criticada em artigos artigos já publicados ("Por que nos esforçamos para converter aqueles na FSSPX ao Sedevacantismo", "SŪMULA CONTRA CORPUS DOCTRINĀLE "RECOGNOSCERE ET RESISTERE"), é uma posição intrinsecamente incoerente e, em última análise, prejudicial à alma. Ela se apega à casca vazia do reconhecimento de uma autoridade que, em seus atos e ensinamentos universais, demonstra ter apostatado da Fé Católica.


Discorda da doutrina da Indefectibilidade: Se os ocupantes da Sé de Pedro e dos bispados ensinam heresias e impõem leis universais nocivas à alma (como o Novus Ordo e o Concílio Vaticano II), então a Igreja de Cristo teria falhado. Mas a Igreja de Cristo é indefectível. Portanto, os que ensinam esses erros não podem ser a verdadeira hierarquia.


Abraça o cisma de fato: Ao resistir sistematicamente ao que eles próprios reconhecem como "autoridade legítima", a FSSPX e seus defensores praticam o cisma (ao menos de modo material), mesmo que o neguem verbalmente. Eles julgam o Papa e o Magistério, erguendo um tribunal privado de seleção e escolha, o que é pura heresia galicana em vestes romanas.


Perpetua a confusão: Ao manter a ilusão de que "há um Papa", mas que se pode desobedecê-lo impunemente, a posição "reconhecer e resistir" confunde os fiéis e obscurece a gravidade da crise, impedindo-os de ver a verdadeira realidade: a vacância da Santa Sé.


Conclusão: A Única Opção Coerente para a Fé Católica

A Igreja Católica é indefectível. Ela não pode ensinar o erro universalmente, nem impor leis nocivas à fé e à moral. O Magistério perene é infalível e a fé é una e sem contradições.


Os "papas" conciliares — de João XXIII a Francisco — através do Vaticano II, do Novus Ordo Missae, da "liberdade religiosa" ecumênica, da colegialidade, das blasfêmias, demonstraram repetidamente ter se desviado da Fé Católica. Eles impuseram doutrinas e disciplinas que estão em contradição frontal com o que a Igreja sempre ensinou e praticou.


Assim, o problema não é a desobediência a um Papa liberal que não tem intenção de impor seus ensinamentos (ainda que o façam de maneira vinculativa e universal), como a FSSPX tenta argumentar. O problema é que, ao promover tais erros, esses indivíduos perdem ipso facto a autoridade papal. Não se pode "reconhecer" como verdadeiro Papa alguém que sistematicamente e publicamente manifesta heresia e apostasia.


A única posição teologicamente sólida e coerente com a doutrina católica da indefectibilidade da Igreja e da infalibilidade do Papado é o Sedevacantismo. Não há cisma em reconhecer a ausência de um Papa legítimo na Cátedra de Pedro quando esta está ocupada por um apóstata. É um ato de fidelidade à Fé e à própria Igreja. O inimigo não é apenas o modernismo, mas também a ilusão de que se pode "resistir" a quem se reconhece como o Vigário de Cristo.


A oração e o discernimento são urgentes neste tempo de trevas. O Corpo Místico de Cristo, permanece e não pode perecer. Mas a Sé de Pedro, em sua visibilidade, está vacante, aguardando o retorno de um verdadeiro Pastor.


Notas:

(1) Paulo VI, Consistório Secreto com os novos cardeais em 1976.

(2) Ibid.

(3) Ibid.

(4) Ibid.

 
 
 

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